segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cap. 1 - Parte 1

O céu, completamente branco, escondia a beleza de uma estrela distante, que por entre a neblina fracassava em iluminar o planeta. O oceano estava calmo, pacifico…a sua beleza natural escondida pelo tempo, o seu leito imperturbado, o seu som seguia o barulho de uma gaivota altiva no seu voou, passando a voar rente a água. Pairou sem conhecer limites, não avistava terra, não havia nada, não havia um ser que a perturbasse, quando de repente um barulho distante a assustou e a fez recuar em direcção ao céu.

Um ser rasavam a água, fazendo uma barulheira enorme, enquanto o oceano atirava a sua água para os lados. A neblina não deixava ver quem era ou o que o fazia manter-se acima da água, porém a sua presença não passou impune, uma enorme baleia surgiu do interior aquático, rasgando a superfície da água, furando toda a concentração de beleza, de um sítio tão puro, num único e vasto ponto. A sua enorme boca abriu-se, engolindo algumas ondas taciturnas, a sua cor preta revelou-se na neblina como um ser possante e de grande idade. A silhueta que passava naquele estranho objecto, aproximou-se da baleia, revelando um pouco de si. Por entre o véu branco imperturbável, apenas se via o objecto que segurava aquela criatura acima da água. Uma prancha bastante pequena com um formato bizarro, bastante bicuda na frente e larga na parte de trás, pairava acima da água, segurando em cima de si alguém cujas botas pretas choravam por algum tratamento.

- Barac, meu amigo. – Disse uma voz feminina, muito terna e viva, no entanto, parecendo naquele momento francamente abusadora. – Que fazes por aqui? – Perguntou a mesma voz. A enorme baleia soltou alguns sons característicos, tentando na sua inocência comunicar com aquele ser. – Como te compreendo meu amigo, desculpa mas não posso ficar muito tempo. Diz ao meu irmão para ele não se preocupar. – A baleia parecia estar furiosa, batia com as suas longas barbatanas dorsais na água, tentando reclamar algo que nunca ninguém pode dizer o quê. A estranha prancha desapareceu novamente na neblina, levando consigo o enorme som que provocava enquanto rasgava a calma dos mares. A baleia voltou a submergir, furiosa. Sugou consigo o ar a sua volta, substituindo-o pela paz que interrompera.

A neblina cobriu o espaço, tentando agora manter o seu lugar quando uma segunda silhueta surgiu, levantando o véu branco atrás de si. Gritava a plenos pulmões por um nome que procurava naquela imensidão oceânica.

- Eliana, Eliana… – Pela primeira vez a silhueta surgiu na sua totalidade. Uma rapariga, de forma humana, berrava por detrás de um capacete de cor preta o nome de uma outra qualquer rapariga, talvez perdida na neblina. Pairava também acima da água num objecto bastante parecido com o da anterior silhueta, embora a forma fosse um pouco mais oval do que bicuda. – Eliana chega destas corridas, vamos parar, não devíamos estar a fazer isto. – Berrou novamente colocando as mãos a frente do capacete como se isso fosse aumentar o nível do som. A neblina continuava a dispersar por onde a rapariga passava, parecendo ser sugada para o interior dela. O seu fato perfeitamente branco, era completo dos pés a cabeça, apenas um fecho éclair aberto na frente mostrava alguma pele de uma cor bastante morena. Um enorme símbolo nas costas representava um grande tornado com um enorme A, imprimido a preto.

Continuou a chamar o nome, irrompendo pela neblina, puxando consigo todo o oceano numa busca que parecia ser em vão. Esgotada parou com um movimento brusco da anca, colocando a prancha na perpendicular em relação a trajectória que tomara. Olhou a sua volta, tentando procurar sinais de vida, estava perdida, o seu coração admitiu-o, quando se agarrou a ele, ofegante. Olhou a água calma, agora pacifica, apenas o som da sua respiração interrompia o leve ondular do oceano. Viu o capacete reflectido na água, a sua cabeça andava a roda, enquanto o ar lhe parecia faltar por detrás daquele material. Tentou desajeitadamente desapertar algo por debaixo do queixo, estava a custar a sair. Finalmente ouviu-se um clique e o capacete soltou-se, permitindo a rapariga retira-lo sem dificuldades. Abanou a cabeça soltando o cabelo e este esvoaçou ao vento, mostrando todo o seu esplendor. O cabelo de uma cor vermelha bastante escura caiu-lhe quase até ao fundo das costas, tapando o símbolo. Os seus olhos, de cor verde, contrastavam perfeitamente com o moreno da sua pele, brilhando como duas esmeraldas num enorme misto azul do oceano. Uma fita branca, presa na cabeça, tapava-lhe a testa, e uma pequena pérola figurava a frente, límpida e transparente. Essa mesma pérola começou a brilhar, num branco transparente e um pouco ofuscante, absorvendo o ar a sua volta. A rapariga fechou os olhos, parecendo estar a encher os pulmões de ar a uma velocidade alucinante tal era a rapidez com que o seu peito enchia e encolhia, expelindo o ar. Duas mãos surgiram do nada e envolveram os olhos e a concentração da rapariga dos longos cabelos vermelhos.

- Adivinha quem é. – Disse a mesma voz terna que falara com a baleia momentos antes, porém agora muito mais agitada e divertida.